Criança viciada em game dificilmente tem cura
Mesmo após diagnóstico, mais de 80% dos dependentes tecnológicos
persistem no hábito
BEATRIZ SALOMÃO
Curitiba - Um alerta aos
responsáveis: o uso excessivo de jogos eletrônicos por crianças não é ‘uma fase
que passa com o tempo’. Estudo com 3.034 pessoas, com idades de 8 a 14 anos,
constatou que 84% dos ‘viciados’ nos games mantinham o comportamento
mesmo após dois anos do diagnóstico. Notas baixas e isolamento social são os
principais efeitos do hábito.
Crianças e adolescentes de Cingapura
foram acompanhados de 2007 a 2009, e em 10% foi constatado o uso abusivo. A
pesquisa ‘Uso Patológico de Videogame entre Jovens’ foi feita por
psiquiatras das universidades de Iowa (Estados Unidos), Nacional de Cingapura e
Politécnica de Hong Kong. Daniel Spritzer, coordenador do Grupo de Estudos
sobre Adições Tecnológicas (Geat), com sede no Rio Grande do Sul, alerta que o
problema não pode ser encarado como comportamento comum. “Na maioria dos casos,
não passará sozinho”, avisa.
Gabriel, 13 anos, passa seis horas por dia em frente ao computador, muitas vezes jogando online com os amigos. Ele garante que tira notas boas. Foto: José Pedro Monteiro / Agência O Dia |
Segundo o especialista, a
dependência tecnológica se manifesta da mesma maneira que o vício em drogas,
como cocaína e maconha. Sintomas, como a abstinência, são parecidos e as áreas
cerebrais ativadas (sistema de recompensa e prazer), as mesmas. A
dependência tecnológica se divide em quatro: de jogos eletrônicos; redes
sociais; smartphones; e conteúdo sexual online. O psiquiatra explica que o
tempo dedicado aos jogos não é o que determina a dependência, mas o prejuízo na
vida do jovem. Baixo rendimento escolar é o principal sinal de alerta e
cabe à família impor limites. “É a regra de primeiro o dever e depois, o
lazer”, lembra.
Aluno do sétimo ano, Gabriel
Figueiredo Fernandes Lobão, 13 anos, conta que passa seis horas por dia em
frente ao computador. Do outro lado da tela, dezenas de amigos com quem
joga online. O adolescente garante que o hábito não atrapalha as notas, mas
assume que já adiou o início do dever de casa por causa dos games. “Já fiquei
um dia inteiro jogando. Às vezes, chamo meus amigos para sair, mas eles
preferem ficar no computador”, conta.
Guilherme, 9: ótimo aluno, gosta de jogos e acha redes sociais chatas
Foto: arquivo pessoal
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Foto: arquivo pessoal
Meninas nas redes sociais, meninos
nos videogames
O tema foi abordado no 31º Congresso
Brasileiro de Psiquiatria, realizado entre 23 e 26 de outubro, em
Curitiba. Segundo Guilherme Crelier de Aquino, 9 anos, os jogos online
ajudaram a fazer novos amigos quando mudou de escola. Apesar de passar até seis
horas por dia no computador, ele diz que tem as melhores notas da sala. “Enjoei
do Facebook. Acho os jogos mais interessantes e criativos”.
Sinais de alerta
- Preocupação
Pensamentos excessivos em jogos
passados e ficar ‘planejando’ as próximas sessões. Perda de interesse por
outras atividades.
- Abstinência
Irritabilidade, ansiedade e tristeza
quando a internet e os jogos são tirados.
- Tolerância
Para se sentir satisfeito, são
necessárias cada vez mais horas em frente à tela. Aumento da necessidade de
jogar.
- Perda de controle
Tenta parar de jogar, mas não
consegue, mesmo sabendo dos riscos do vício.
- Fuga
Recorre à tecnologia para esquecer
problemas.
- Prejuízo
Teve relações pessoais prejudicadas
ou perdeu aulas devido ao vício.
http://odia.ig.com.br/noticia/mundoeciencia/2013-11-03/crianca-viciada-em-game-dificilmente-tem-cura.html
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