EM PALESTRA, FILÓSOFO MARIO SERGIO CORTELLA FALA SOBRE COMO CONSTRUIR UMA CONVIVÊNCIA MAIS ÉTICA DENTRO E FORA DAS ESCOLAS.
Para uma criança viver bem, entre outras coisas, ela precisa
de limites. Isso tem tudo a ver com os valores que os pais transmitem na
criação. A conduta dos filhos depende dos exemplos que elas recebem dos adultos.
Principalmente para os menores, é ineficaz explicar conceitos teóricos, como
ética, mas é fundamental praticar valores como convivência, respeito ao
próximo, capacidade de partilhar e de falar a verdade.
Esse foi o tema da palestra do filósofo e educador
Mario Sergio Cortella, “Como construir uma convivência mais ética no nosso dia
a dia? Reflexões urgentes para pais, docentes e educadores”, baseada em seu
novo livro, “Educação, Convivência e Ética”, da Cortez Editora. O evento
aconteceu ontem, 16/04, no Colégio Visconde de Porto Seguro, no Morumbi.
Mesmo que não haja uma clareza tão grande sobre o que é
certo e o que é errado, crianças observam e são influenciadas pelas posturas de
pais e educadores. Em entrevista concedida a Pais&Filhos,
Cortella explica que ética não é uma questão de estabelecer um código sobre o
que é adequado e o que não é, mas uma reflexão a respeito do porquê você faz
aquilo que faz. Ou seja, é necessário pensar se o que fazemos é bom para nós e
para outros ou se é bom para nós e prejudica os outros. “É preciso formar
pessoas na vida que entendam que ser decente não traz todas as vantagens que
quem não é decente obtém imediatamente, mas que traz muitas outras que
persistem no tempo, e que o indecente não conquista”, acrescenta o filósofo.
Para Cortella, os pais desta geração não estão passando para
as crianças a noção do esforço e isso é prejudicial para a formação dos filhos:
“se uma criança não foi formada aprendendo a valorizar a ideia de esforço, ela
vai achar que as coisas acontecem como mágica, que não é preciso correr atrás
de nada”.
A importância do bom exemplo
Você provavelmente já ouviu ou até falou a seguinte frase:
“Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Porém, quando se trata de
educação, na prática isso não funciona. Não adianta um pai dizer ao filho que
ele não deve mentir, porque mentir é feio, e quando o telefone tocar em casa,
pedir para dizer que ele não está. A criança pode ouvir que é muito ruim o
desperdício, mas se ela vê os pais desperdiçando comida, ou deixando o chuveiro
ligado durante muito tempo, ela aprende o contrário pela assimilação do
exemplo.
Cortella explica que uma criança pequena não tem ideia do
que é justo ou injusto, mas ela imita os modos de conduta dos pais. E, sobre a
importância da boa educação, acrescenta: “O mundo que vamos deixar para nossos
filhos depende muito dos filhos que vamos deixar para esse mundo”.
Papel da escola
É essencial a parceria da família com a escola, pois a
primeira é apoiada pela segunda na educação dos filhos. Muita gente confunde
educação com escolarização, mas a escolarização é apenas um pedaço da educação.
Por isso, não há uma parte da formação que seja exclusiva dos pais sem o apoio
da escola, assim como não há uma obrigação que seja somente da escola.
Cabe a escolas inteligentes formar parcerias com as
famílias, e cabe às famílias procurar essa parceria nas escolas. Embora sejam
instituições diferentes, a criança é a mesma. Por isso, o importante não é
dividir a educação entre elas, mas sim repartir. Os professores também
introduzem valores éticos na escola, por meio de exemplos e incentivos, como
mostrar que não se deve pegar o que não lhe pertence, ou de não admitir que uma
criança pratique o sofrimento de outra.
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